terça-feira, 22 de abril de 2008

Ando um pouco sonolento, bucólico. E mesmo imóvel em meu beco, chamas explodem dentro de mim, são os demônios e os anjos que rondam meu espírito e meu coração, eles querem liberdade, eles querem enxergar o inferno e o céu, eles querem que eu os expurgue.
Quanta energia reside em uma jovem e bela alma! Quantos furacões e rojões podem ser desferidos, quantos oceanos inundados, quantos mundos engolidos! Há, se não existissem correntes! Malditas correntes! O homem é escravo de si mesmo!Gosta de ser escravo, gosta de um bom fardo.
Embriagado pela paixão de Werther(1), eu o invejo, mesmo tendo vivido um martírio, uma tragédia, que sorte teve aquele pobre jovem, de espírito solto e coração vivaz. Encontrou a mais bela de todas as damas, a mais graciosa, a mais sensível, aquela que lhe proporcionou um encontro de almas. Uma verdadeira dama, merecedora de todos os suplícios, sacrifícios e juras, aquela que criava e preenchia todo o vazio no peito daquele pobre rapaz. Que belo romance esses dois viveram!
Carlota era comprometida, já estava de casamento marcado com um nobre, generoso, educado e que a amava, não como Werther em sua lunática paixão, mas de modo fiel e bondoso. Werther entendia com sua razão que Carlota nunca seria sua, e que a melhor alternativa era fugir, procurar outra donzela, outros ares, mas não, um jovem tão vivaz não pode atender apenas a sua razão, seu espírito quer que ele sonhe, imagine, alucine em deleites primorosos, casas fantasmas, campos verdes, junto de seu amor, mesmo que lhe custe a existência! O que vale a vida se não se pode sonhar?
Escolheu o caminho da ruína para poder sonhar com seu amor, mesmo que nunca a tenha em mãos, o simples prazer de vê-la tocar seu piano, suas delicadas mãos, seus gestos celestiais, tanta beleza e suavidade, pobre homem, obcecado e enlouquecido decidiu ir até o fim, achara o amor de sua vida e não ia largar o que acreditara senão morto, e assim o fez.
Um jovem enlouquecido por um nobre amor e derrotado pela dor.

Um brinde ao ser humano, que por mais vivo e intenso, é efêmero!

(1) Os sofrimentos do jovem Werther, Johann Wofgang Goethe.

4 comentários:

Mari Custodio disse...

intensos

M.B disse...

Ai ai...sempre surpreendente!
Mtas saudades de ti querido.

Natan Cerqueira disse...

Rufus sempre a surpreender! Eu desconhecia completamente sua veia literária, colega. Ótimo trabalho!

Mari Custodio disse...

Nunca me canso de ler esse post...